12 dezembro, 2013

Questões do dia 11

   Acordei no dia 11 com uma vontade imensa de não sair da cama. E eu juro, quase não saí. Abri mão de postar no blog e até mesmo tive preguiça de ir até a cozinha beliscar minhas besteiras. A chuva não parava de cair e o noticiário da tv, em todos os canais, só citava a mesma coisa: Chuva, catástrofe, tragédia, engarrafamento, enchentes...
   Parecia que Deus tinha tirado a quarta-feira para dar uma lavada no Rio de Janeiro. O dia parecia extremamente triste, o céu estava nublado, o som de chuva fraca e forte ao fundo, um vento frio que passava pela minha sala de vez em quando. O dia 11 poderia ser como um dia qualquer, na verdade, não. Não poderia não.


   Dia 11, apesar do céu escuro, apesar de toda a tragédia que fazia o meu estado transbordar, eu livrei meu pensamento de qualquer preguiça e desânimo para me focar em coisas boas. Existia alguém precisando de mim, existia alguém que merecia (e sempre mereceu) todos os meus bons pensamentos, sonhos e ideias, minhas boas vibes e orientações. Meu amor, meu carinho e minha admiração, todos voltados para uma mesma pessoa. Não somente no dia 11, mas seria quase impossível não fazer essa cerimônia por uma quarta-feira pertencente a alguém tão especial: A Rhay.
   No dia 11 de Dezembro de 1997, nasceu alguém que eu realmente não tinha a noção do quanto mudaria a minha vida. Acredito que nada acontece por acaso, mas sei também que só fui criar esta crença em mim depois de muito, muito tempo. Com o passar dos anos, a gente começa a entender muita coisa que, quando somos crianças, não conseguimos compreender. Até então, família sempre me foi algo importante, a base de tudo, e a Rhayane vir fazendo parte logo da minha... Isso não pode ser coincidência.
   Coincidência não, mas sim um bom plano. Uma droga de um enorme e perfeito plano! Nada mais justo do que virmos coladas, compartilhando a mesma vó, os mesmos tios, o mesmo sobrenome e o mesmo sangue. Eu descobri na Rhay o porto seguro que eu realmente precisava. A companhia perfeita para as minhas maluquices mais incompreensíveis, minhas madrugadas sem dormir, meus achocolatados escondidos, jogar videogame, chorar pelo garoto errado e ficar com os garotos errados também e poder compartilhar as felicidade de estar com o suporto garoto certo.


   Eu sempre morri de medo de não conseguir ser uma boa prima, uma boa amiga e uma pessoa presente na vida dela. Sei que da mesma forma que eu preciso dela, ela precisa de mim, e eu sempre soube que nosso relacionamento poderia se desgastar por causa da distância. Por longos anos ficamos separadas, e eu confesso que já tinha até me esquecido que havia uma prima/amiga/irmã esperando por mim. 
   Quando nos "reencontramos", acredito que já estávamos crescidas e foi um (pequeno) susto perceber o quanto a minha garotinha já tinha crescido e criado peitinhos. Ri-sos. Foi algo bom e confortável pra mim, foi como se nunca tivéssemos nos separado. O laço familiar falou mais alto e eu sabia que ela seria minha maior parceira dali por diante. E não foi diferente.
   Deus escreve certo e disso eu já não tenho mais dúvidas. Ter a Rhayane na minha vida, sendo minha melhor amiga, minha companheira, minha cúmplice, minha blogueira predileta e minha incrível confidente é um dos maiores presentes que eu pude ganhar. Fazemos uma dupla maravilhosa, nos conhecemos perfeitamente e nos encaixamos como ninguém. Uma companhia que dá tão certo, um amor que é assim... Puro e familiar. Não teria como esse dia 11 ser trágico, nem mesmo triste, nem mesmo "desespecial".
   Num papo de amiga mesmo Rhay, eu gostaria de te dizer que minha melhor saída é você. Queria te pedir que você jamais se esquecesse da pessoa especial que é, da pessoa especial que me torna e do quanto eu te amo por cada um destes detalhes. Eu não mudaria nada. Na verdade, talvez só te traria um pouco mais pra perto. Pra gente varar a noite acordadas, fazer listinhas nos meus cadernos e lavar meu banheiro. Deixar meu celular cair da varanda e ir comer um bom pastel de chocolate. 
   Jamais se esqueça da importância do dia 11 e de todos os outros que também são seus. Você é alguém que irradia luz e personalidade. Você é alguém que me completa sendo basicamente... Rhayane. E isso é lindo, isso eu prezo muito. Você é alguém que eu sei que jamais abrirá mão de mim apesar dos meus defeitos e das minhas exigências. Te desejo toda a felicidade do mundo durante todos os dias, mesmo longe, aqui estou eu focando minhas expectativas e bons sentimentos em você, que, sem dúvidas, também faz o mesmo por mim.


   Queria que você soubesse que eu sou extremamente orgulhosa da relação que temos, do carinho, da confiança e principalmente do quanto somos parceiras. Gosto de te ter como minha amiga, gosto de colecionar lembranças e segredos contigo e gosto principalmente de saber que divido (e assim, dividirei) uma vida com alguém tão incrível como você. Mais um ano e parece que foi ontem que fazíamos aquelas historinhas e brincávamos de casinha e gritávamos para qualquer avião/helicóptero que passasse "ME CARREGA, ME CARREGA!".
   Obrigada pela paciência e por todo o cuidado. Você é alguém que merece sorte, sucesso e coisas boas não só hoje, mas sim o tempo todo. E aqui eu sempre estarei te garantindo que, pode tudo desabar... Eu estarei com você. 
   O dia 11 parecia catastrófico e desordenado, mas é o dia em que a Rhay tira para sugar todo o brilho pra si... E bem, ela merece! O dia 11 parecia um dia triste, mais um dia qualquer. Mas não era, nunca foi e nunca será. Sempre será um bom dia para eu me lembrar que, apesar de tudo, existe alguém que eu não abriria mão por nada nessa vida, alguém que me conhece e me entende como poucos (muito poucos), alguém que tem espaço vip no meu humilde coraçãozinho, alguém que é desde sempre para sempre.
Feliz aniversário atrasado Rhay. 
Desde sempre, para sempre. Eu te amo.

Leth

10 dezembro, 2013

Dê valor...

Ela não é do tipo de pessoa que fala que gosta só pra agradar. Ela não é dessas que se entrega pra qualquer um. Ela odeia ser fofa. Ela é ciumenta, mas não demonstra um pingo. Se você provar que é digno de confiança, ela fará o possível e o impossível só pra te arrancar um sorriso. Ela vai te dizer coisas fofas, mesmo odiando, vai querer demonstrar o quão especial você é pra ela. Pode até rolar de você perceber uma pontinha de ciúme no olhar dela, mas não adianta falar... Ela negará. Pode achar que ela não tá nem aí pra você, mas quando diz que vai sair, ela fica toda preocupada com medo de você não voltar mais, ou pior, com medo de você não voltar bem. Depois de um beijo, ela te dará um beijo na bochecha, olhará em seus olhos, dará um sorrisinho e irá acariciar o seu rosto. Quando você disser algo fofo, ela ficará pensando naquilo por horas. Ela é do tipo que gosta de gestos feitos com sinceridade. Pequenas coisas, mas sinceras, tornam-se algo grandioso. Ela vai dizer que sentiu sua falta, pode não dizer claramente com todas as palavras, mas se reparar bem por trás daquele "você sumiu ein" terá um "to com saudades". Ela dará um jeito de te ver. Se você realmente gosta dela, dê valor! Ela não é do tipo que corre atrás.

Bem... Ela sou eu. 
Rhay

08 dezembro, 2013

A incompreensível diferença entre objetos e mulheres

   Eu me senti um lixo. Era mais uma tarde qualquer, tarde, claridade, Sol, crianças na rua, carros passando, não me parecia uma situação de risco muito menos uma situação em que eu pudesse me sentir um lixo. Eu me sentia camuflada, depois que me tornei adolescente eu preferi sair assim. Mas talvez eu não estivesse suficientemente camuflada. Eu ia a padaria, ao mercado, a praça, ali na esquina, dar uma volta. No meu padrão de short jeans e camiseta, eu estava andando na rua como outra pessoa qualquer. A diferença? Eu sou mulher.


   No início do problema, eu não via nada como um problema. A sociedade me ensinou que isso é normal, então eu apenas abaixava a cabeça e lidava como se nada estivesse acontecendo. "Eu sou superior, não sou?" e continuava andando. Já vi velhos babões, meninos de uniforme, rapazes nas esquinas, uns até com aliança, outros que aparentavam ter uns 30 e que com certeza tinham uma filha, ou uma prima, ou alguma tia...
   Comecei a evitar as calçadas dos bares, evitei passar muito perto dos pontos de táxi e eu já não andava mais pelas ruas, eu me sentia num campo minado. Meu pai me deu um short, eu sempre gostei muito dele. No calor, no fresquinho, em qualquer momento avulso, ele me caiu muito bem. E os homens que estão na rua, dentro dos ônibus, nas janelas de suas casas ou em qualquer canto, fazem questão de concordar em alta voz com isso. Nunca me pareceu elogio, me parecia nojeira em formato sonoro. No início do problema, eu me achava o problema. Será que eu sou a errada de vestir um short curto? Será que eu sou a errada de andar sozinha na rua? Será que eu sou a errada desse desejo incontrolável do homem de gritar em plenas calçadas, avenidas, esquinas, vielas, portas e janelas algo que eles realmente acreditam que é um elogio?
   Não é um elogio.
   Eu nunca tinha ouvido falar sobre a cultura feminista. Mas a partir do momento que a ouvi, soube que ela tinha sido feita todinha pra mim. Aliás, basicamente para todas as mulheres. Eu estou na rua, andando livremente. Eu tenho uma mãe em casa, um pai em casa, basicamente, uma família. Era uma história engraçada, "antigamente" poderíamos associar qualquer gracinha aos pedreiros. O mundo está de cabeça pra baixo! Quase todos os homens viraram pedreiros! "Ei gostosa", "ohhh lá em casa", "imagina isso na minha cama", "delícia", "senta aqui minha linda" e já tive que me deparar com até um "olha que delícia de peitinhos". Eu nunca estive preparada para ouvir isso, eu não devo me preparar para ouvir isso. Eu não preciso dos seus elogios.
   Isso NÃO são elogios.


   Uma vez, eu passei pela infelicidade de ouvir que mulheres são como carteiras. Infelizmente não era uma metáfora. A ideia é que se você deixa uma carteira "dando bobeira" é claro que vão se aproveitar disso. Para quem não entendeu, a (horrorosa, tenebrosa e nojenta) ideia nos leva a pensar que: Se você é mulher e fica dando bobeira ai na rua (como uma piranha, ou uma mulher que não é de família... Isso que eles querem dizer) é óbvio que vão te olhar, mexer com você e gritar "elogios". Olhar nunca foi problema, mas eles nos comem com os olhos. Mexer educação nunca foi problema, mas eles nos discriminam com as palavras. Elogiar é uma arte. Mas como eu adoro um clichê: Nem todo mundo é artista.
   Meu short jeans curto é mais óbvio do que parece: Eu estou afim de usá-lo, está calor e ele me cai bem. Ele nunca foi e jamais será um convite para suas frases baixas. O meu decote é de minha vontade, eu adoro o meu corpo e ele também não é um convite. Mulheres não são objetos, não são carteiras. 
   Vamos rebobinar e brincar "ao invés"? Imagine a seguinte situação: Está muito calor, um homem está sem blusa na rua (claro, com pouca roupa desse jeito ele está pedindo pra ser assediado por mulheres loucas falando frases de baixo calão e alto teor de vulgaridade), então uma mulher vendo a belezinha desfilar pelas ruas da cidade com seu corpinho de fora solta um "Imagina isso lá em casa ein...". Sejamos sinceros e honestos: Não diremos que o homem sem blusa está pedindo pra ser azarado, mas sim que a mulher é tão puta que anda mexendo com homens na rua - essa não deve ter um homem em casa para dar umas porradas nela, né queridos? - É apenas uma questão de lógica. Se colocarmos essa história ao invés, como acontece na realidade fica mais ou menos: ACORDA! Diremos que meninas de roupa curtinha estão pedindo pra ser azaradas, dificilmente diremos que estes homens são uns canalhas e não devem ter uma mulher em casa para dar uns bons tapas neles. 
   Eu realmente queria terminar meu desabafo de indignação por aqui, mas, infelizmente, ainda digo mais. Em situações aonde homens, no geral, mexem conosco na rua, se nos atrevemos a responder, eles nos xingam mais ainda e o argumento não poderia ser outro: "Eu ein, eu só estava elogiando. Vadia, vai lavar uma louça, vai!".
   A mulher jamais precisou e jamais precisará de situações como essa. É um erro acreditar que tais falas sugerem uma admiração pela mulher ou pelo corpo feminino. A falta de respeito, de espaço e de liberdade feminina é uma situação que, basicamente, todas nós enfrentamos todos os dias; Nas escolas, nossos trabalhos, idas ao mercado, praia e ruas. Até quando eu terei que me perguntar "Será que o erro é meu?", até quando eu terei que abrir mão dos meus shorts, saias, vestidos e decotes porque um simples homem "não consegue se controlar"? Quando eles terão a noção de que nós somos filhas de alguém, mães de alguém, primas, tias, avós, amigas de alguém? Você mexe vulgarmente com meninas na rua? Isso, delícia, se chama violência. 
   Eu estou realmente cansada de me perguntar aonde está o erro e me encontrar sempre na mesma resposta "Simples, eu nasci mulher".

   Basicamente, este é o meu desabafo. Não é de agora que passo por situações como essa e é deplorável perceber que só recebo respeito quando estou com algum homem por perto. Aliás, isso sugere que os homens da rua tem respeito pelo homem que está comigo e não por mim, porque eles jamais mexeriam "com a mulher é que do outro". Assim como eu jamais mexeria na carteira que está no bolso de alguém, mas se ela estivesse no chão... Né? 

Leth